a sorte de um amor tranquilo

não tem sabor de fruta mordida. mas tem cochilos pela tarde. tem umas perguntas inconvenientes, que se repetem demais,

‘não vai me cobrir não?’

‘você tá lendo o qu… ah, aquele livro mesmo, lembrei’

‘tá tudo bem?’ ‘tá’ ‘e tá com essa cara?’ ‘que cara?’ ‘essa daí’

perguntas sem respostas

às vezes eu viro para o amor e pergunto se ele quer ir morar no canadá, na china, na noruega, no vietnã, no quênia, numa caverna – ele quase sempre diz sim, o amor não gosta de calor

amor não costuma se importar com a roupa que eu uso ou qual brinco combina com aquela blusa bonita que eu quase nunca uso, sabe qual é? amor curte silêncio, fazer as coisas devargaziiiinho, como se todo dia fosse domingo no fim da tarde, ali perto do por do sol meio alaranjado

amor não entende meus trânsitos e nem o de recife, mas tá ali tentando aprender a usar o gps que ele mesmo criou para si

amor tem cheiro, paz e cabelo, muito cabelo, vai deixando retalhos, traços e marcas pela casa, pelo quarto pela cama e pelo banheiro

e pode deixar, desde que fique, amor e sempre