sobrevivendo

Chegou a pandemia. Ficou a pandemia. E aqui estamos, em pandemia.

E chega a vontade de escrever, de fazer alguma coisa, de criar alguma coisa. Meu companheiro começou a desenha. Minha mãe borda. E eu só tenho minhas palavras. E, logo, fiz o que sempre faço: volto para cá, meu refúgio, meu pequeno abrigo pequenininho que tá aqui por tanto tempo.

Fico repensando todo o tempo em que eu estou por aqui – os relacionamentos que eu passei, os cortes de cabelo, estilos, celulares, computadores, dilemas. Mais de nove anos nessa casinha, em 365 dias, 366 dias, tantos outros dias.

E caio na risada: quando, meu deus, que eu pensei que estaria escrevendo sobre estar de quarentena? Em plena pandemia, meu deus, que conceito mais século XIX (mas parece que nós voltamos ao século XIX em tantos outros momentos…).

Me vejo olhando para a janela. Lembro quando gostava de contar a quantidade de pessoas na rua – sentia um misto de angustia e solidão. Me sentia como Rapunzel, presa na torre, esperando para as luzes aparecerem na janela, todos os anos em seus aniversário (claro que estou falando de Rapunzel da Disney). Lembro que, ao cantar sobre a sua solução, todas as suas atividades passam muito rápido – a única que parece se prolongar por horas é pentear seus longos cabelos.  E, durante seus momentos de prazer, ela desenhava, pintava as paredes de sua cela.

De certo modo, eu também pintei as paredes da minha. A casa toda está com novas cores.

 

Agora as coisas começam a acontecer fora da minha porta. Eu ainda vejo a janela, enquanto a luz clara e branca desse inverno chuvoso entra e invade o quarto. Mais pessoas na rua. Os carros. As ambulâncias. O mundo quer voltar ao normal e eu, eu venho para cá. Meu abrigo na hora de hibernar, meu espaço para me encontrar e onde ainda tem espaço na parede para um novo desenho.

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